Dólar caiu para perto dos R$ 5. É hora de comprar? (2023)

Quando a moeda americana começa a cair, surge a dúvida: é hora de comprar ou é melhor esperar caso caia mais? "É hora de comprar dólar, sim. Vimos a cotação sair de R$ 5,35 no final do ano passado para estar operando agora abaixo dos R$ 5, um ganho bem relevante", diz Bruno Mori, planejador financeiro certificado pela Associação Brasileira de Planejamento Financeiro (Planejar).

A recomendação de Fabrizio Velloni, economista-chefe da Frente Corretora, vai ao encontro da de Mori: "compensa pegar os pontos de baixa da moeda e comprar o dólar de turismo, porque a tendência é de ainda termos bastante oscilação. A ideia é ir comprando pelo menos um pouco em dias de baixa expressiva e ir montando uma posição de dólar."

Então é hora de correr para comprar todo o dinheiro em dólar e garantir um estoque? Calma lá. A dica de especialistas ouvidos pelo Valor Investe é aproveitar o momento para fazer uma compra mais relevante, mas não tudo de uma só vez.

A estratégia de tempo deve variar conforme o prazo de cada pessoa para viajar ou para acumular o dinheiro para eventualmente viver fora. A recomendação de agentes do mercado, no entanto, é comprar aos poucos, pela dificuldade de se prever o patamar do dólar em alguns meses.

O planejador financeiro José Faria Júnior, também certificado pela Planejar, simulou a compra de US$ 10 mil em quatro ambientes com o dólar girando entre R$ 4,50 e R$ 5,20. Nesses cenários, a pessoa compraria dólar aos poucos e, na pior hipótese (de compra mais expressiva da moeda no valor mais alto), gastaria R$ 49,2 mil. No melhor cenário, o custo seria de R$ 47,8 mil.

"Estamos falando de uma diferença de R$ 1,4 mil que é cerca de 3% do valor investido, um montante que pesa menos no bolso ou menos relevante sob essa perspectiva", diz Faria Júnior. Ele reitera que o patamar de R$ 5 alcançado pelo dólar nesta quinta-feira (2) é ótimo para um aporte de em torno de 30% do necessário para uma viagem internacional que vá acontecer dentro de seis e oito meses. Isso, claro, para quem tem esse dinheiro sobrando.

Nesse planejamento de compra, mesmo que o dólar continue caindo, a pessoa acabaria comprando os outros 70% do valor que precisa a cotações mais baixas. A questão central é que o preço médio fica interessante.

A situação muda para quem faz remessas contínuas ou quem está juntando para morar fora. Para valer a pena a compra do dólar hoje que vai ser enviado ou usado só daqui a um ano ou ainda mais para frente, é necessário incluir nessa conta o custo do CDI (Certificado de Depósito Interbancário), alerta Faria Júnior. Com uma taxa atual em torno de 12%, esses R$ 5 se tornam R$ 5,60 com a incidência de imposto.

"Se o dólar, daqui a um ano, quebrar essa barreira, valeu a pena comprar hoje. Caso contrário, não", conclui o planejador financeiro. Com a imprevisibilidade da moeda, os especialistas não recomendam compra de dólar para o longo prazo, especialmente com os juros altos, o que reduz a demanda pela moeda.

No caso de quem se organiza para morar alguns anos fora do país, existe ainda a atenção para não investir na compra da cédula - hábito ainda recorrente entre brasileiros - em montantes acima do permitido pela lei.

Mas qualquer valor acima disso corre o risco de ser retido pela Receita Federal e ainda pode implicar em um processo criminal, dependendo da circunstância. Tais regras não se aplicam para o dólar no banco ou em carteira digital.

Mesmo assim, Faria Júnior reforça a orientação de ter cautela, especialmente nos planejamentos de longo prazo, ainda que haja a possibilidade de a cotação do dólar subir frente o real. "A ideia é observar o ambiente e comprar aos poucos", diz. "O problema de expandir demais a compra para um valor equivalente a quatro meses ou mais é que, se o dólar cai R$ 0,20, essa diferença dobra se somada ao carrego do CDI, e no fim a conta fica quase 8% mais cara."

As expectativas do mercado são para um câmbio acima dos R$ 5 até o fim de 2023, "mas isso não quer dizer que ele fique estável nesse período todo como também não quer dizer que as expectativas estão corretas", lembra Mori.

O fato de o Brasil ter o juro real mais alto do mundo, segundo Guilherme Zanin, analista da Avenue, chama a atenção de investidores internacionais pela discrepância ante os seus pares dos mercados emergentes.

Com um país exportador de commodities e juros tão atraentes, os estrangeiros começam a despejar seu capital na bolsa e na renda fixa do Brasil.

"O fluxo de dinheiro em função do comércio exterior vindo para o Brasil pressiona a cotação do dólar para baixo. Então agora é uma boa hora de comprar, desde que não seja tudo de uma vez. A tendência que acompanhamos nos últimos meses é de que a queda continue, mas isso não é uma certeza", reitera Mori.

Zanin segue outra linha, com uma visão mais esticada para o dólar. Para ele, como não se trata de uma mudança estrutural no cenário brasileiro, a perspectiva é que o dólar volte a ganhar força ante o real dentro de algum tempo.

A queda expressiva do índice DXY (ou Dollar Index), que compara a moeda norte-americana com as divisas dos seis principais mercados no mundo, também mostra que esse não é um movimento isolado no Brasil. É um sinal de que fenômeno baixista sobre a cotação do dólar acontece pelos sinais de fraqueza da economia dos EUA, sob risco de recessão.

Esses dois fatores - de atratividade do Brasil pelos juros reais e de fuga do mercado norte-americano - ajudam a sustentar a ideia de se tratar de uma tendência passageira. A perspectiva é que os juros estejam perto da linha de chegada nos EUA, o que significaria o fim das altas por lá.

Por aqui, como o crescimento do país está atrelado à inflação, a projeção é que a economia brasileira esteja, em termos reais, praticamente estagnada. Para completar, o mercado navega por incertezas que dificultam os negócios.

E com questões de gastos públicos e déficit ainda a serem discutidas na agenda governamental, o dólar passará por volatilidade e pode voltar para casa dos R$ 5,10, segundo Velloni.

"Teremos essas janelas baixistas, mas com o mercado arisco. Com as volatilidades de baixa, há oportunidade de montar posições e comprar dólar. Mas ainda não vejo muito espaço, na atual conjuntura econômica do Brasil, para a moeda firmar muito abaixo dos R$ 5", conclui o economista-chefe da Frente Corretora.